Toda teoria, ensina Adam Smith, é uma maneira de imaginar as coisas. Se há sistemas preferíveis a outros, é na medida em que explicam, com um refinamento e uma elegância de meios que os demais não têm, fenômenos variados e complexos, reduzindo-os a um conjunto unificado de princípios e dando-lhes o aspecto de uma regularidade e constância sem as quais se furtariam ao nosso entendimento. Essa observação, feita a propósito da astronomia, aplica-se também à ciência então nascente da economia.
Como observa Hume, embora a riqueza tenha sido, desde sempre, objeto da preocupação dos homens, apenas na modernidade, com a chegada dos europeus ao continente americano, ela se tornou “uma questão de Estado”, em razão de sua multiplicação a níveis nunca vistos antes. Tudo sugere aí, à primeira vista, um fenômeno caótico e desregrado, governado pela força das paixões humanas. Mas o filósofo moral, guiado pelo método experimental, sabe que a regularidade está por toda parte, mesmo ali, onde parece não haver vestígios dela. Dos Ensaios de Hume à Riqueza das nações, do Tableau de Quesnay aos Princípios de John Stuart Mill, do utilitarismo ao marginalismo, da crítica à economia política à macroeconomia, da econometria à teoria dos jogos, a economia vem se estruturando e se afirmando como ciência, no empenho sucessivo de imaginar sistemas regulares de fenômenos. O fato de ser também uma pragmática, ou, como diz Hume, de estar ligada à administração do Estado, faz com que esse esforço de estudar as ações humanas a partir de certos pressupostos tenha efeitos concretos, moldando as mesmas ações que interessa descrever. Curto-circuito interessante, que produz os mais variados resultados, políticos, sociais, e teóricos, e que situa a economia, até hoje, firmemente, no domínio da teoria oitocentista da imaginação. Daí a ideia de investigar as raízes dessa rica tradição intelectual, em um grupo de pesquisa orientado por uma perspectiva dupla: da história dos problemas econômicos, e da genealogia dos modelos e conceitos presentes nas diferentes vertentes da ciência. Privilegiando os clássicos, essa investigação abre-se para linhagens contemporâneas do pensamento econômico.